“Cartas d’Amor”, de Eça de Queirós, é um conjunto breve de cartas em forma epistolar que circula sob a assinatura de Fradique Mendes — uma figura semi-ficcional muito usada por Eça — e dirige-se à mulher amada, chamada Clara. Escritas ao gosto romântico do final do século XIX, essas cartas exploram o tom apaixonado e a retórica sentimental da época, ao mesmo tempo em que exibem a dicção e a sensibilidade características do autor. Pelo que sei, a unidade é curta (são apenas algumas cartas) e costuma aparecer em edições separadas ou reunidas em coletâneas de textos menores do autor.
O texto funciona em dupla camada: por um lado, reproduz com convicção o registro do amor cortês e da paixão arrebatada; por outro, contém traços de ironia e exercício estilístico — é possível ler as cartas como homenagem ao sentimentalismo ou como uma pequena sátira desse mesmo gênero, dependendo da edição e da leitura crítica. A voz de Fradique mistura altivez, teatralidade e sinceridade afetada, o que torna a leitura ora comovente, ora ambígua, e revela o domínio técnico de Eça sobre diferentes registros literários.
Por estar dentro do acervo de obras de Eça de Queirós (autor falecido em 1900), essas cartas já circulam em domínio público e aparecem com facilidade em edições digitais e impressas. São textos curtos e muito úteis para introduzir debates sobre persona literária, paródia do romance sentimental e o jogo entre sinceridade e artifício na escrita do século XIX.