Os Maias, narra a história da família Maia, uma das mais tradicionais e abastadas de Lisboa, ao longo de várias gerações. O romance centra-se na figura de Carlos da Maia, o último descendente direto masculino, e na sua busca por um sentido na vida, marcada pelo dilettantismo e pela ociosidade, heranças de uma aristocracia em declínio. A ação se desenrola principalmente no Ramalhete, a sumptuosa residência da família, que simboliza a grandeza e a decadência dos Maias.
A trama começa com a ascendência de Carlos, detalhando a trágica história de seu pai, Pedro da Maia. Pedro, um jovem romântico e fraco, apaixona-se perdidamente por Maria Monforte, uma mulher de beleza estonteante, mas de reputação duvidosa. O casamento escandaloso e a posterior fuga de Maria com um italiano, levando consigo a filha pequena, resultam no suicídio de Pedro, deixando Afonso da Maia, o avô de Carlos, com a responsabilidade de criar o neto.
Afonso, um homem de princípios liberais e grande dignidade, dedica-se à educação de Carlos, que cresce em um ambiente de luxo e cultura. Carlos torna-se um médico culto, elegante e de bom gosto, mas sua inteligência e ambição são frequentemente obscurecidas por uma inércia fatalista. Ao regressar a Lisboa após os estudos, ele se entrega a uma vida de ócio, amizade com o cínico e boêmio João da Ega, e paixões superficiais, sem nunca concretizar seu potencial.
A vida monótona de Carlos é abruptamente alterada pela chegada de uma nova e misteriosa família a Lisboa. A deslumbrante Maria Eduarda de Castro, acompanhada de sua filha e de um suposto marido (o brasileiro Castro Gomes), desperta uma irresistível fascinação em Carlos. Sua beleza exótica, sua elegância e seu porte distinto rapidamente a tornam o centro das atenções da sociedade lisboeta e, em particular, de Carlos.
Entre Carlos e Maria Eduarda nasce uma paixão avassaladora e proibida. Apesar dos rumores sobre o passado de Maria Eduarda e da sua aparente condição de mulher casada, Carlos se entrega cegamente ao amor. Eles iniciam um relacionamento secreto, marcado por encontros apaixonados na Vila Balzac e pela intensa cumplicidade, acreditando terem encontrado um no outro a alma-gêmea que tanto buscavam.
No entanto, sinais perturbadores começam a surgir. A presença de Castro Gomes, que eventualmente se revela não ser o marido de Maria Eduarda, mas sim um amante passado, levanta dúvidas sobre a verdadeira identidade e a história da mulher. Ega, o amigo perspicaz de Carlos, torna-se cada vez mais desconfiado e, ao investigar o passado de Maria Eduarda, começa a montar um quebra-cabeça assustador.
A verdade, cruel e estarrecedora, é finalmente desvendada por Ega, após uma série de coincidências e a descoberta de antigas cartas e testemunhos. Maria Eduarda não é outra senão a filha perdida de Pedro da Maia e Maria Monforte, a irmã de Carlos que fora levada pela mãe para a Europa. Os dois amantes, Carlos e Maria Eduarda, são, na realidade, irmãos.
A revelação do incesto atinge Carlos com uma força devastadora, desfazendo seu mundo e sua percepção da realidade. Inicialmente, ele se recusa a acreditar, mas as provas são irrefutáveis. O choque é imenso, transformando o amor que sentia em horror e desespero. Maria Eduarda, igualmente abalada, enfrenta a vergonha e a desgraça, vendo sua vida desmoronar.
O escândalo e a tragédia obrigam Maria Eduarda a partir de Lisboa, tentando recomeçar sua vida longe do olhar da sociedade. Carlos, por sua vez, mergulha em uma profunda crise existencial. A descoberta do incesto, somada à perda de seu querido avô Afonso, que morre de desgosto ao saber da verdade, destrói qualquer resquício de propósito ou esperança que ele ainda pudesse ter. Sua vida retorna à ociosidade, agora tingida de amargura.
Anos mais tarde, Carlos e Ega se reencontram em Lisboa, uma cidade que parece tão decadente quanto eles próprios. Em uma cena final emblemática, enquanto correm inutilmente atrás de um bonde, eles refletem sobre suas vidas falhadas, os ideais perdidos e a incapacidade de agir e de construir algo significativo. A obra encerra-se com um sentimento de fatalismo e a constatação da derrota da geração de Carlos, que sucumbe à inação e à melancolia, simbolizando o declínio de Portugal.



